Mesmo tendo sido aprovado por unanimidade na Assembleia Geral dos Sócios da Intercom no último congresso realizado em Recife (PE) no mês de setembro, o tema do congresso de 2012 da entidade – “Esportes na Idade Media - diversão, informação e educação” – tem gerado certa resistência por parte do meio acadêmico.
A enquete no site da Intercom indicava desaprovação na ordem de 40% na última semana. Nem a proximidade da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Brasil modificou uma visão tradicional - em 35 anos de história, é a primeira vez que o esporte é tema do encontro nacional da entidade.
Para o coordenador do Grupo de Pesquisa de Comunicação e Esporte da Intercom, Marcio Guerra, a origem do preconceito está no surgimento do futebol e nas coberturas jornalísticas. “No início do século passado, grandes intelectuais como Monteiro Lobato, Graciliano Ramos e José Lins do Rego discutiam se isso deveria ou não ser coberto. Desde então, as redações sempre tiveram um nariz meio torto para o esporte”, explica Marcio Guerra.
Para Ary Rocco pesquisador e professor da USP e da FECAP, "a Academia não conseguiu dar ao futebol o valor que ele merece". O pesquisador, que fez seu doutorado na área, acredita que dois fatores geram a rejeição: na época da Ditadura Militar, o esporte, em especial o futebol, foi usado para apoiar o discurso, inclusive no exterior, de que o Brasil era um país que crescia e se desenvolvia. Atualmente, o fato de o esporte estar ligado ao entretenimento e ao mundo empresarial desagrada. “Se existe um fenômeno cultural que retrata a miscigenação que construiu o povo brasileiro é o futebol. É um equívoco confundir uma discussão sobre história, cultura e sociedade. É um estudo sério”, afirma Rocco.
Já o Diretor Administrativo da Intercom, José Carlos (Zeca) Marques, diz que "a enquete no site não é uma pesquisa feita com critérios científicos, mas apenas uma forma de saber o que pensam alguns dos internautas". No entanto, reafirma que há um enorme preconceito da Academia com tudo que diz respeito ao esporte e a relação do esporte com a Comunicação.
“Nas universidades públicas, não há cadeiras sobre o tema nos cursos de comunicação social. Nas instituições particulares, mais voltadas para o mercado, essa discussão comparece, mas ainda de forma tímida”, avalia José Carlos.
Para José Marques de Melo, presidente de honra da Intercom , há pesquisadores que preferem política e educação, e outros o esporte. “Uns gostam mais e outros menos. Tem quem não goste de política. Isso não inviabiliza, não é motivo para trocar. O tema de 2012 é muito importante tendo em vista os acontecimentos que virão: Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil”.
Nesse sentido, a Intercom acertou ao definir esse tema, que passará a fazer parte de uma agenda comum nos eventos de 2012. “O Brasil vai sediar dois megaeventos, e as áreas de comunicação (Jornal, RP, PP, Rádio) devem se preocupar e se estruturar para debater a questão de forma digna”, afirma Zeca Marques.
Fonte: Intercom
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